
Independentemente do nível técnico em curso – até porque questionar o nível técnico da Série B é um verdadeiro mantra repetido ano após ano – a reta final da segunda divisão nacional apresenta o cenário de maior equilíbrio e indefinição em toda a história. Faltando apenas três rodadas, existem dois recortes impressionantes: Hoje apenas um ponto separa o vice-líder do 5º colocado e só três pontos separam o mesmo 2º do 7º colocado. Em nenhuma outra edição desde 2006 (ano em que a competição passou a ser disputada no atual formato) existiram diferenças tão pequenas. O recorde do equilíbrio está estabelecido.
Analisando dados históricos, a explicação para este emaranhado está na alta pontuação do bloco que vai do 4º ao 10º colocado – com pontuações que vão de dois a cinco pontos acima da média histórica. Este campeonato tem o melhor 7º, 8º, 9º e 10º colocados de todos os tempos. Os três últimos cinco pontos acima da média da Série B. O exemplo do CRB é gritante. Com 53 pontos, a equipe alagoana tem uma pontuação igual – ou até mesmo superior – a do 5º colocado das edições de 2007, 2014, 2020 e 2022. Nesta temporada sequer tem chance de acesso.
Restam 8 clubes e 3 vagas para a Série A

Em um recorte mais abrangente, a disputa pelas três vagas abertas na Série A 2024 vai do vice-líder Criciúma (60 pontos) ao 9º colocado, Vila Nova (55 pontos). O teto do time goiano é de 64 pontos. Por ter uma tabela, em tese, fácil e pela quantidade de confrontos diretos, não é um absurdo considerar a chance de acesso caso consiga 100% de aproveitamento na reta final. Nas projeções do centro de estatísticas da UFMG, a chance de subir com 64 pontos é de 83,3%. Naturalmente este cálculo não significa que esta é a chance do Vila subir se fizer 64 pontos. Ganhar todos os jogos é algo fora da curva. No campo e na matemática.
Quando a estatística aponta a alta chance de acesso com 64 pontos, ela está contando justamente com a considerável dificuldade dos clubes que hoje estão abaixo dos 60 pontos atingirem essa pontuação. O Sport, por exemplo, precisaria de uma vitória e dois empates para chegar aos 64. Novorizontino e Mirassol teriam que ser quase perfeitos, somando duas vitórias e um empate. E – para isso acontecer – necessariamente teriam tirado pontos de Criciúma e Atlético, respectivamente. O emaranhado de possibilidades gerada pelo alto número de confrontos diretos é enorme. E qualquer texto que tende explicar detalhadamente os cenários vai acabar confundindo ainda mais.
O emaranhado dos 7 confrontos diretos

Incluindo o Vitória – que ainda precisa da confirmação matemática do acesso – são 7 confrontos diretos nas próximas três rodadas. Na 35ª acontecem Novorizontino (6º) x Vitória (1º); Guarani (8º) x Criciúma (2º); Sport (5º) x Atlético (4º); na 36ª teremos Vitória (1º) x Sport (5º) e Atlético (4º) x Mirassol (7º); e, na rodada final, Atlético (4º) x Guarani (8º) e Novorizontino (6º) x Criciúma (2).
Este emaranhado de confrontos estabelece a margem de 65 pontos como basicamente segura para o acesso. A probabilidade – de acordo com a UFMG – salta de 83,3% com 64 pontos para quase definitivos 99,0% com 65.
64, 65, 66 pontos…Qual a margem segura?

O número de 65 pontos é o que, inclusive, norteia as esperanças do Sport. Fora do G4 após 18 rodadas, o rubro-negro escora sua resistência nos dois jogos dentro da Ilha do Retiro – contra Atlético e Sampaio. Dos cinco primeiros colocados, o Sport é o único que jogará duas vezes em casa. Uma vantagem que já foi mais contundente. Dos últimos 5 jogos na Ilha, o Leão venceu apenas dois, empatou dois e perdeu um.
De toda forma, o aproveitamento em casa do Sport é de 75%. Enquanto o Criciúma, por exemplo, tem apenas 39% como visitante – e fará dois dos três jogos finais nesta condição. Em contrapartida, se focarmos no desempenho recente, o Tigre somou 12 dos últimos 15 pontos, enquanto o Leão fez apenas 5. Desempenho superior apenas ao do Guarani (3 pontos) dentro do grupo dos 9 primeiros colocados.
Há muitas formas de se ver o mesmo quadro
Repito o que escrevi acima: Quanto mais se tenta explicar, maior a chance de confundir. Não há basicamente nenhuma projeção ou análise segura para se traçar. São incontáveis ângulos para o mesmo quadro.
Talvez exista um único senso comum – além da óbvia constatação do “tudo por acontecer”. Importante identificar que o Juventude não aparece naquele emaranhado de jogos de seis pontos. Tem um “caminho livre” pela frente. Não por acaso o clube de Caxias do Sul tem 75% de chance de acesso, contra 56,8% do Atlético, mesmo com os dois somando a mesma pontuação (60). E, ainda assim, o histórico do Juventude em jogos contra os “times de baixo” está longe de ser seguro. No recorte recente, por exemplo, empatou com a Chapecoense e o rebaixado Londrina dentro de casa e ainda com o Tombense fora. Na última rodada, em pleno Alfredo Jaconi, a vitória sobre o Ituano – que jogava com um homem a menos e chegou a fazer o gol de empate – veio com um pênalti marcado aos 51 minutos do 2º tempo.
Até quando deve ir esta indefinição? Salvo uma combinação de resultados favoráveis ao G4 nesta rodada – e há um desenho factível para isso nos três confrontos diretos já citados – a tendência é que a definição da Série B também fique para “os 51 minutos do 2º tempo”. Tudo depende do que acontecer nas partidas Vitória x Novorizontino; Guarani x Criciúma e Sport x Atlético. A 36ª rodada começa na linha tênue entre desatar o nó ou achatar de vez o funil do G4.