
Nelsinho Baptista, ex-Sport - Foto: Divulgação/Kashiwa Reysol
Ex-treinador do Sport falou com exclusividade ao Click Esportivo
Após cinco anos no Japão, onde soma ao todo 17 anos de trabalho, o técnico Nelsinho Baptista está de volta ao Brasil. Ídolo do Sport, onde conquistou o título da Copa do Brasil em 2008, o treinador também tem passagens por Corinthians, Ponte Preta, Santos, São Caetano, Flamengo, Goiás, São Paulo, Portuguesa, Cruzeiro, Internacional, Palmeiras e Athletico-PR.
Fora do país, treinou Sporting Barranquila, da Colômbia, Colo-Colo, do Chile, além dos clubes japoneses Verdy Kawasaki, Nagoya Grampus, Kashiwa Reysol e Vissel Kobe. O treinador também coleciona grandes títulos nacionais e internacionais.
Em entrevista exclusiva ao Click Esportivo, o técnico Nelsinho Baptista falou sobre seu retorno ao Brasil após vários anos no futebol japonês, relembrou seus momentos no Sport, revelou como vem fazendo para se atualizar sobre o futebol nacional e comentou sua relação com o também técnico Eduardo Baptista, seu filho.

Click Esportivo – Depois de 5 anos no Japão, somando 17 anos ao todo, você está retornando ao Brasil de vez. O que te motivou a regressar ao futebol brasileiro?
Eu trabalhei os últimos anos no Japão, além da minha passagem rápida pelo Sport em 2018, mas estamos voltando. Foram praticamente 11 anos no Kashiwa Reysol, intercalados, e entre 2009 e 2015 conseguimos títulos, conseguimos acesso à Primeira Divisão. E quando eu retornei em 2019, o time tinha voltado para a Segunda Divisão e nós conseguimos colocá-los na Primeira Divisão novamente.
E depois da pandemia, tudo começou a ficar mais difícil para todos, inclusive para os times do Japão. Então entre 2019, 2020 e 2021, conseguimos manter um time forte, mas depois disso acabamos perdendo vários atletas. Com isso, acabamos ficando com um time tecnicamente mais fraco, disputando às posições na parte de baixo da tabela.
Eu já tinha alertado eles em 2022, que nós precisaríamos de um time mais forte, cobrei novamente em 2023, mas as coisas acabaram não evoluindo, principalmente divido à parte econômica. Depois disso, resolvi dar um basta.
Tive uma reunião com eles, onde expliquei que eu tenho uma história bonita no clube, cheia de títulos, e disse que não estava mais contente com a situação. Pedi a liberação para retornar ao Brasil, e assim aconteceu.
Click Esportivo – Tem acompanhando os jogos no Brasil, as coletivas, para tentar se ambientar novamente com nosso futebol? Muita coisa mudou, ou é basicamente a mesma coisa?
Eu tenho acompanhado diariamente os jogos, até porque hoje em dia temos jogos de segunda à segunda. Às vezes pela Série A, às vezes pela Série B, temos a Premier League, ou a La Liga, então todo dia estou acompanhando, e isso é muito importante, principalmente para entender o que vem acontecendo fora de campo e dentro de campo.
Tenho assistido coletivas de treinadores e jogadores, as opiniões que a gente vê na mídia, então estou fazendo tudo com muita tranquilidade, principalmente para não estranhar na hora que eu voltar a trabalhar.
Taticamente falando, eu não tenho visto nada de novo, apenas variações que acontecem há muito tempo. Logicamente o que tem hoje é o contexto, a mudança no nome de algumas coisas antigas, então estou procurando me adaptar para ter mais tranquilidade para trabalhar.
Click Esportivo – Já surgiram alguns convites para 2024? Que tipo de convite seduz o Nelsinho Baptista hoje em dia?
Eu não tive nenhum convite ainda. Quando cheguei ao Brasil, minha primeira foi bem clara de que eu não queria trabalhar em 2023. Eu queria descansar, e queria começar um trabalho do inicio, não queria pegar algo pela metade, onde você precisa de resultados para ontem.
Então estou bem tranquilo, e aberto à propostas para 2024. Qualquer proposta eu vou analisar, vou ver as condições, para ter a possibilidade de realizar um bom trabalho.
Porque muitas vezes você vai para um clube com um objetivo grande, e quando você chega não encontra essa infraestrutura prometida. Então eu vou analisar tudo isso, e não importa onde vai ser, seja no sul, no sudeste, no nordeste.
Click Esportivo – O que você acha sobre essa vinda de técnicos estrangeiros para o Brasil. Estamos vendo essa questão até na Seleção Brasileira, com essa possível vinda de Carlo Ancelotti.
Eu não poderia ser contra o estrangeiro, porque trabalhei 17 anos no futebol japonês como estrangeiro. Então acho que o estrangeiro com qualidade, com experiência, é muito importante para trazer coisas novas, por vir de uma escola diferente.
Mas na minha opinião, depois da Copa do Mundo do Brasil em 2014, depois do 7 x 1 contra a Alemanha, a mídia colocou todos os treinadores brasileiros dentro de um saco de farinha e nenhum presta mais.
Com isso, surgiram mais oportunidades para os técnicos mais jovens, que ainda necessitavam de um tempo para essa oportunidade. E o que aconteceu?
Os clubes não tiveram paciência com os treinadores jovens, e quando os resultados não aconteciam, os clubes não seguravam. Com isso, muitos técnicos da nova geração foram queimados, e com isso foram buscar nomes fora do Brasil.
Eu acho que a gente pode citar poucos treinados que deram certo no Brasil. Temos o caso de Abel Ferreira, no Palmeiras, Jorge Jesus, no Flamengo, esse rapaz que está no RB Bragantino, Pedro Caixinha, vem fazendo um grande trabalho, António Oliveira, do Cuiabá também.
Mas os demais, estão por aí batendo cabeça. Com isso, eu entendo que tem espaço para o treinador brasileiro recuperar sua condição perante os torcedores.

Click Esportivo – Nesses anos longe do Brasil, tem um recorte onde você volta ao Sport em 2018. Se arrependeu de ter voltado? Porque não deu certo o retorno?
Eu tenho muito respeito pelo Sport e pelo seu torcedor, e também por alguns dirigentes. O que aconteceu em 2018, eu já comentei há anos atrás. Então está tudo bem entre eu e o Sport, não existe problema com ninguém, e segue a vida. O clube está seguindo sua vida, e eu estou seguindo a minha.
Click Esportivo – O que você está achando da disputa do título na Série A, e da briga pelo acesso na Série B? Vemos as equipes empatadas em pontos, e brigando pelos seus objetivos até o fim.
As duas Séries A e B, até o sétimo colocado, existem possibilidades. É claro que tem clubes que dependem só deles, e tem clubes que precisam fazer o resultado e depende dos adversários, mas no geral, a disputa está sendo sensacional.
Você vê aí na Série A, o Botafogo estava com 13 pontos na frente, e acabou perdendo a liderança. E isso daí valoriza, é a disputa, você vê os clubes querendo chegar.
E na Série B é a mesma situação, os clubes brigando até o fim, querendo o acesso, é uma competição muito forte. No meio disso estamos vendo muitos jogadores jovens, então estamos vendo uma evolução no nosso futebol.
Não tínhamos disputas como essas há muitos anos, sempre ficavam dois, três clubes até o final, agora estamos vendo seis clubes na Série A brigando pelo título, e seis clubes brigando na Série B pelo acesso.
Click Esportivo – Tem acompanhando o Sport na Série B? Está difícil, mas acredita no acesso do clube?
Acredito sim. Matematicamente tem possibilidade. Vai ter um jogo muito complicado contra o Vitória, apesar que o time baiano já conquistou o acesso, então seria mais complicado se o Vitória estivesse precisando desses pontos. Então é um adversário que está mais tranquilo, pode jogar de forma mais leve, mas é sempre um time muito perigoso.
Click Esportivo – Seu filho também está na briga pelo acesso com o Novorizontino. Tem acompanhando? Está na torcida pelo Eduardo?
O Eduardo (Baptista) está fazendo um excelente trabalho, e após o jogo onde o Novorizontino acabou derrotado pelo Vitória, a gente se falou por telefone, e eu disse o seguinte: Matematicamente ainda existe a possibilidade, mas o Novorizontino precisa ganhar, além de depender de outros resultados.
Contra o Vitória o time fez um grande jogo, perdeu várias oportunidades, algumas que não se pode perder numa decisão, mas faz parte.
De qualquer forma, o Eduardo foi para o Novorizontino visando conseguir o acesso à elite do Campeonato Paulista, e conseguiu, e logo depois entraram na Série B visando fazer 45 pontos e não cair. Mas o trabalho que foi feito lá surpreendeu à todos, com os resultados e estando vivo na briga até as últimas rodadas.
Muitas vezes os treinadores fazem trabalhos bons na Série B, mas só podem subir quatro. Não só o Eduardo, outros estão fazendo um bom trabalho, mas infelizmente não devem conseguir subir. Porém, ele vai sair como um vencedor, não como um perdedor, pois ele alcançou os objetivos que ele projetava.

Click Esportivo – Com esse seu retorno para o Brasil, existe a possibilidade de você enfrentar o Eduardo, seu filho, em alguma competição. O coração de pai está preparado para isso?
Nunca aconteceu da gente se enfrentar. Mas se acontecer, será sem dúvidas um momento único. Eu vou trabalhar do meu lado, ele vai trabalhar do lado dele também, e tenho certeza que faremos um grande jogo.
Click Esportivo – Até quando você vai seguir trabalhando? Usando como exemplos Felipão, Luxemburgo, que seguem na ativa após os 70 anos.
Enquanto Deus me der saúde, agilidade, e vontade de fazer aquilo que eu gosto, eu vou continuar. Estou me sentindo muito bem, clinicamente e fisicamente estou muito bem. Então não vejo o porque continuar em casa.
É claro que vai depender das oportunidades dos clubes, mas estou pronto para trabalhar e participar dentro do campo, para fazer sempre com que o trabalho evolua.