OPINIÃO

As duas faces do Vitória em 2023: Do caos ao acesso em 6 meses

Rubro-negro baiano atinge os 64 pontos na 33ª rodada e agora foca no inédito título nacional Era ainda a 4ª […]

Jogadores do Vitória celebram o acesso no vestiário do Castelão após vencer o Sampaio Correa por 1x0 na Série B

Rubro-negro baiano atinge os 64 pontos na 33ª rodada e agora foca no inédito título nacional

Era ainda a 4ª rodada da Série B. O Vitória acabava de golear o Botafogo/SP fora de casa. A quarta vitória consecutiva. Dez gols marcados. Nenhum sofrido. O início de campanha avassalador revertia um dos piores momentos da história do clube – tendo como ponto fora da curva corrosiva o acesso para a segunda divisão em 2022, em um campeonato onde chegou a correr risco de rebaixamento. Em abril deste ano, o cenário era devastador. Cinco anos consecutivos fora das semifinais do Campeonato Baiano. Eliminado mais uma vez na primeira fase da Copa do Nordeste. Sem vaga garantida na Copa do Brasil de 2024.

Antes da primeira rodada, o site Chance de Gol projetava 88% de chance de rebaixamento para o rubro-negro de Salvador.

Eis que, quatro jogos depois, o Vitória assinava a melhor largada da história da Série B. Em todo o recorte da competição disputada em seu formato atual (iniciado em 2006), nove clubes haviam largado com quatro vitórias. Seis deles subiram – três como campeões. Dos três que não conseguiram o acesso, a pior colocação final foi a do Náutico em 2021, 8º colocado com 53 pontos. Por mais que todas as interrogações que pairavam sobre o Leão fossem justificadas, a matemática e a história deixavam claro que a largada 100% já deveria ser tratada – no mínimo – como uma base sólida de campanha.

A projeção do acesso e o “mínimo de normalidade”

Naquela mesma noite, no Twitter – sem pensar duas vezes, admito – escrevi: “A largada do Vitória, dentro de um mínimo de normalidade, deixa a Série B com 3 vagas abertas”. Essa minha projeção foi recebida por uma avalanche de críticas e ironias. “Emocionado”, “Precipitado”, “Você não conhece o Vitória”, são algumas das publicáveis. No dia cheguei a responder que a maioria das pessoas direcionou todo o foco para as “3 vagas abertas” e ignorou completamente o “dentro de um mínimo de normalidade”.

E, na segunda divisão, o “mínimo de normalidade” é muito mais fácil de ser alcançado do que na Série A. Incomparável, na verdade. Ainda mais para um clube com enorme potencial de mobilização. Caso do Vitória. A largada com quatro (depois cinco) vitórias foi decisiva para virar a página do caos. E, até por ter plena consciência da oportunidade aberta, a torcida respondeu imediatamente. O Barradão ganhou uma atmosfera de decisão muito cedo. Assim, um time com considerável limitação técnica foi se transformando em uma equipe confiante e extremamente concentrada para extrair o máximo do momento. Da oportunidade que se abriu na sua frente. Até houve evolução na qualidade do futebol. Mas nem de perto uma revolução.

Defesa, goleiro e bolas paradas: Os pilares da ascensão

Tecnicamente, três eixos devem ser destacados na consolidação do Vitória: O excelente encaixe da defesa – tendo no zagueiro Wagner Leonardo o jogador com maior regularidade de bons desempenhos da Série B; a segurança do goleiro Lucas Arcanjo; e a força das jogadas de bolas paradas. Receita simples, mas suficiente para garantir exatamente aquilo que defini como “mínimo de normalidade” e que foi solidificando a campanha. Pilares que nenhum outro adversário conseguiu ter. 

Ao atingir a 5ª vitória consecutiva na rodada seguinte, o Vitória entrou em um recorte estatístico onde apenas três outros clubes haviam conseguido este desempenho inicial. Dois deles subiram como campeões e o outro é o já citado Náutico de 2021, que entrou em colapso após perder – coincidentemente – o mesmo zagueiro Wagner. Para não repetir o erro, o clube baiano inclusive adquiriu os direitos federativos do jogador durante a competição. É aí onde entra o “potencial” do clube. Existe uma diferença abissal entre Vitória ou Ituano largarem vencendo quatro jogos. A gestão de futebol do rubro-negro foi extremamente bem conduzida. Um trabalho cuidadoso, seguro de Léo Condé e da direção do clube. Resgataram jogadores em baixa como o atacante Oswaldo, encontraram reforços pontuais como o volante Dudu.  

Todos os números que garantem o acesso


Corte na linha do tempo. Chegamos ao presente. Com 33 rodadas disputadas, o Vitória alcançou 64 pontos e apenas a rigidez matemática nos impede de cravar o acesso. Por qualquer ângulo de análise, por qualquer estatística, por qualquer recorte. Nunca um clube com mais de 64 pontos na 33ª rodada perdeu o acesso. Nunca um líder neste momento do campeonato deixou de subir. Nunca um time com 7 pontos de vantagem (pontuação mínima que terminará a rodada) perdeu seu lugar no G4. Nunca uma equipe com apenas 18 gols sofridos em 33 jogos ficou na segunda divisão.

A lista de “nuncas” é longa.

A vitória que evitou a crise e “salvou” a campanha

Jogador do Vitória Matheus comemora gol sobre o Sport Recife na Ilha do Retiro em partida da Série B do Campeonato Brasileiro
Vitória por 2×1 sobre o Sport na Ilha foi a mais importante da campanha, recolocando o clube no G4 após duas rodadas fora e início de turbulência. Foto: Victor Ferreira / EC Vitória

O foco do Vitória agora está direcionado para o título. Também muito próximo. Das 33 rodadas disputadas, o Leão foi líder em 22. Só deixou o G4 em um recorte de duas rodadas, quando viveu a única oscilação negativa na competição, com 4 derrotas em 5 jogos na reta final do 1º turno. A vitória por 2×1 sobre o Sport na Ilha do Retiro pôs um ponto final na curva de queda e – olhando para a campanha em perspectiva – aquele deve ser considerado como o resultado mais importante em todo o trilho do acesso. Ali Léo Condé estava, inclusive, sob risco de demissão. Era um treinador sem lastro prévio de uma grande campanha. Alvo fácil de uma primeira crise que não veio. Outro momento que poderia causar uma forte turbulência foi a goleada de 6×0 sofrida para o CRB. De novo, a resposta veio rápida, fria, sem maiores empolgações ou desesperos. A assinatura do Vitória de 2023.

De volta para casa


A reta final que definiu o acesso derrubou todos os narizes torcidos em relação à qualidade do time. Os mais resistentes em aplaudir a equipe de Condé tiveram que se render à capacidade de controlar partidas e de neutralizar virtudes dos adversários. Nos últimos 11 jogos, o rubro-negro só levou gol em duas partidas. No Barradão, são 8 jogos consecutivos sem sofrer gol. Um nível de competência e eficiência comparável apenas ao atual recorte de reação do Atlético/GO. Na fotografia completa da Série B, incomparável.

Depois de virar a página caótica de 2023, o Vitória agora vira mais uma página da sua história. Uma prova da sua própria grandeza. Às vezes basta um vento à favor para abrir caminhos. E foi o que aconteceu. A incursão de cinco temporadas longe da elite do futebol brasileiro chega ao fim. Em 2024, o Vitória fará sua 40ª participação no Campeonato Brasileiro (se considerarmos a versão unificada, agora iniciada em 1937 após última decisão da CBF) e 20ª na Série A desde o início do sistema de acesso e rebaixamento em 1988.

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